Dados no divã: faz sentido desistir!
Após superar a surpresa de ter sido convidado para a festa de fim de ano do family office do Sr. IBRAOS (Investidor Brasileiro Old School), Dr. FroiData (“DFD”) foi chamado para o palco: era sua vez no caraoquê. Escolheu a bela canção Fought & Lost, do Sam Ryder, que ficou famosa depois de participar da trilha sonora da excelente série “Ted Lasso”.
And everybody falls
But some of us are born to fight, and fight, and fight some more
So, we will see you here
Same time, same place, next year
And you may win this battle but you'll never win the war
Better to have fought and lost than never fought at all
Go take a bow
Your audience is waiting
We'll take the shadows since the limelight isn't ours
We wanted it so bad
Gave it all we had
Oh, but wanting it doesn't always make it yours
This time was ours to lose
But fortune favors those who ride the storm and make it through
Depois de uma recepção morna da audiência, mesmo já “massageada” pelos comes e bebes, DFD voltou para a mesa com a sensação de dever cumprido: não foi vaiado!
Sr. IBRAOS: Estava esperando algo mais animado, DFD. Tipo: axé, funk… até rock dos anos 80.
DFD: Ainda não estou nesta fase da cantoria. Mas o fim de ano traz essa questão prazerosa de escutar músicas com mensagens de esperança, para um ano melhor por vir.
Sr. IBRAOS: Zero esperança. Sempre te falo: isso aqui é Brasil! Temos que nos preparar para o pior, e esperar o pior! CDI forever!
DFD: Triste.
Sr. IBRAOS: Mas nesse assunto de esperança, tenho uma dúvida que talvez você possa me ajudar. Como falar para uma founder que investi, que está na hora de fechar a startup e partir para outra? Como passar uma mensagem objetiva, porém esperançosa?
DFD: Assunto bem atual, em linha com o livro da excepcional escritora Anne Duke, Quit. Além do link com inúmeros estudos, que são alguns acadêmicos (1, 2), outros mais anedóticos (1, 2), mas todos indicativos, nenhum definitivo. Até porque as amostram vêm de mercados mais maduros (como pensar sobre isso), ainda nada do mercado local. Mas a mensagem geral é: desista, para começar algo novo! Os dados estão a seu favor…
Sr. IBRAOS: Por favor, não é o momento para dados, DFD.
DFD: Sempre tem um espacinho para dados, querido Sr. IBRAOS. Vamos lá, enquanto não sou chamado para a próxima canção!
Primeira hipótese: empreendedores seriais têm indícios de maior frequência de casos de sucesso.
Comentários:
Não sou fã de status de Unicórnio como métrica de sucesso, mas para muitos no mercado é a meta. A experiência prévia de ter fundado uma startup tem alguma correlação com a maior frequência de sucesso na empreitada seguinte neste grupo seleto;
Em um grupo escolhido aleatoriamente dentro da amostragem desse estudo, aproximadamente 60% dos que levantaram USD3M com VCs tinham empreendido pelo menos uma vez antes. Seja pelo relacionamento estabelecido, experiência maior de gestão, melhor escolha da oportunidade seguinte, ou outras causas, o empreendedor serial conseguiu uma maior frequência de sucesso no fundraising.
Segunda hipótese: dentro do grupo de founders que levantaram capital com VCs, sucesso na empreitada anterior OU funding com VCs de primeira linha aumentam consideravelmente a chance de sucesso nas jornada seguintes.
Comentários:
Reforço que nesta parte estamos considerando somente founders que já levantaram com VCs;
Sucesso anterior, medido por IPO ou exit de certa magnitude, aumenta consideravelmente a chance de sucesso das jornadas seguintes. Interessante que este estudo (até 2008) não pegou a fase da conotação dos Super Founders, dado que não encontrou link com a necessidade de levantar recursos com VCs de primeira linha nas empreitadas posteriores. Acho que seria diferente se o estudo se estendesse até 2018;
O mais legal aqui é o impacto muito positivo dos VCs de primeira linha nos founders que não tiveram sucesso nas tentativas anteriores. Acho que a sinalização de qualidade do funding, experiência de gestão, relacionamento com VCs para testar ideias mais promissoras, dentre outros, devem contribuir para esse fenômeno.
Terceira hipótese: ainda dentro do grupo de founders que levantaram capital com VCs, idade mais avançada é indicativa de maior probabilidade de sucesso.
Comentários:
Os autores sugeriram o acúmulo de experiência de gestão, capital financeiro e relacionamentos na indústria, como potenciais causas deste impacto da idade na probabilidade de sucesso.
Sr. IBRAOS: Muito obrigado, DFD. Agora tenho material suficiente para direcionar a fera para fechar essa e abraçar a próxima: gostaria que ela liderasse uma ideia de fintech que tenho em mente.
DFD: Seja com vocês, ou com VCs, ou com venture builders (exemplo: Fisher VB), não faltam bons parceiros financeiros para testar novas ideias. Se o founder foi correto durante a jornada (incluindo o fechamento da startup), construiu os relacionamentos com os potenciais financiadores com maior fit pessoal e profissional, trabalho com diligência na ideia seguinte, acredito que seja um momento bem interessante para partir para a próxima aventura. Mas um querido empreendedor escreveu um texto muito legal para refletir também: era mesmo o desejo de empreender? Ou foi um impulso pelo falso glamour da mídia?
Sr. IBRAOS: Neste caso com esta founder, o desejo era genuíno. E acho que ela aprendeu muito para ir com tudo na loucura seguinte.
DFD: Então é isso. As probabilidades dela aumentaram consideravelmente. Agora vou para a próxima canção de um veterano chamado Guy Clarke: The Cape.
Old and grey with a floursack cape
Tied all around his head
He's still jumpin' off the garage
Will be till he's dead
All these years the people said
He's actin' like a kid
He did not know he could not fly
So he did
He's one of those who knows that life
Is just a leap of faith
Spread your arms and hold your breath
Always trust your cape
Sr. IBRAOS: P@rrraaaa, DFD. Que música nada com nada. Vou ter que compensar puxando o hino: coloca Evidências, dj!