Os deuses gregos usavam dados em RH?
Quando uma querida founder de segunda jornada (“F2J”) me perguntou sobre dados que poderiam ajudar no desafio de pessoas e cultura para a sua próxima startup, lembrei de uma troca entre Zeus e Theseus na excelente série Blood of Zeus (Netflix).
NOTA: não está claro que a citação é grega ou do general romano Heraclitus (ou outras fontes). Então sigo com licença poética aqui.
Out of every 100 men in battle, 10 should not be there.
Another 80 are mere targets.
Only 9 are real fighters, and we are lucky to have them, for they the battle make.
But one, one is a warrior.
And it is he who will bring the others home.
It is the truth of every battle that has been.
Every one I’ve been a part of.
And it will be the truth in this battle and the next.
Until the day of the Divine One.
F2J: Muito legal, Dr. FroiData (“DFD”). Mas como conectar esse suposto “senso comum” dos gregos com a atualidade?
DFD: Vamos por partes, serial entrepreneur! A ideia aqui é ajudar você com algumas referência acadêmicas de dados (outras nem tanto) para se preparar melhor para o mega desafio de atrair, desenvolver e liderar talentos. Como já está pensando em cultura & talentos antes da próxima startup (topzeira!), não vou me ater aos conselhos qualitativos sobre o tópico.
“Out of every 100 men in battle, 10 should not be there” = de cada 100, 10 não deveriam estar lá (tradução livre).
Ou seja, entender os 10% da equipe que deveriam buscar outras oportunidades faz sentido. Desde Jack Welch, e depois reforçado pela cultura 3G/Ambev, além de estudos como esse abaixo da McKinsey, temos vários indícios que parecem dar o suporte para essa colocação da época dos deuses gregos.
“Another 80 are mere targets” = outros 80, são meros alvos (tradução livre).
Se somarmos dos “disruptors” até os “reliable and committed” acima, teríamos 83,5%. Em linha com os mitológicos, essa turma do meio (80%) faz o papel deles, mas em diferentes níveis de compromisso com a organização. Parte da responsabilidade da liderança é investir no desenvolvimento e comprometimento da “meiuca”, mas sabendo que, por definição, não tem como todos chegarem ao topo de performance.
“Only 9 are real fighters, and we are lucky to have them, for they the battle make” = Somente 9 são verdadeiros lutadores, e temos sorte de ter eles, porque são eles que fazem a batalha (tradução livre).
O restante do estudo da McKinsey indica a criação de valor ser direcionada pelos últimos 6,5% (2% de quase lá + 4% de já lá + 0,5% dos líderes das estrelas), mas temos que separar o 0,5% para a parte seguinte. Comparado aos deuses da antiguidade, temos 9% dos verdadeiros lutadores.
“But one, one is a warrior. And it is he who will bring the others home” = Mas um, um é um guerreiro. E é ele que trará os outros para casa (tradução livre).
Aqui a turma da antiguidade tem semelhança com a jornada do herói, que podemos expandir para time de founders. Da perspectiva dos VCs, o time de fundadores tende a ser a variável de maior impacto para os casos de sucesso.
Dito isso, não está claro a necessidade de ter co-founders, apesar de alguns estudos indicativos (gráfico abaixo) e outros não (HBR, Paul Graham).
Mas, por experiência própria, considerando o quão difícil é empreender, sempre recomendo times de 2 ou 3 co-founders para debater melhor a ideia, cobrir os principais riscos específicos da ideia em termos de conhecimento, dividir os desafios de liderança (não ficando somente um guerreiro com esse peso) e também servir de suporte uns para os outros nos momentos difíceis (que invariavelmente virão).
F2J: Interessante, DFD. No final é isso: startups são empresas cuja unidade de valor são as pessoas. Não temos fábricas para medir produtividade, somente receita/MRR/GMV por headcount (Battery Ventures sobre o tópico).
DFD: No “frigir dos eggs”, é isso, F2J. E última referência sobre número de pessoas que aumentam a complexidade da gestão administrativa: 150 é o limite o famoso número de Dunbar (gráfico abaixo). A partir daí, recomendasse um olhar mais atento para organogramas, planos de carreiras, processos em geral para RH etc.
F2J: Verdade. Pensando com você sobre a complexidade de cultura & pessoas, me lembrei de uma passagem da série histórica Shogun (passando na Star+), entre o futuro líder do Japão (Toronaga) e um dos seus líderes regionais (Yabushige). Nota: série que tem muitas reviravoltas pessoais.
Yabushige: How does it feel to shape the wind to your will?
Toronaga: I don´t control the wind. I only study it.
Ao estudar as referências e tentar direcionar o “vento de pessoas” que vão mover sua startup, as chances de sucesso podem aumentar.
DFD: Acredito que sim, super founder. Agora vamos pensar em intros para VCs que ajudarão vocês 0% no value added (opinião deles mesmo), mas têm money, segundo os dados de mercado.